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Re-Inventário de Cantoras 

O Re-Inventário de cantoras Cariri se cria em 2012, enquanto há uma percepção de forma mais acentuada a presença de uma gama de mulheres cantoras e musicistas no Cariri que a cada ano crescia exponencialmente . Em seguida, a continuidade deste trabalho incide em ser institucionalizado no curso de Música-Licenciatura, na Universidade Federal do Cariri-UFCA, em ano de 2014, passando assim a ser um eixo reconhecido como um dos afazeres realizados junto ao Grupo de Pesquisa Agrupamentos da Música Popular e Tradicional do Cariri cearense (CNPq/PROCULT-UFCA): Cantores Populares do Cariri, coordenado pela musicóloga Carmen Sáenz Coopat, e logo em sequência transforma-se no Ré-Inventário de Cantoras.

Este trabalho surge com o propósito de abrir uma discussão em torno das existências de mulheres que atuam com música no Cariri.

Atualmente esses trabalhos reverberam em ações, entrevistas, apresentações culturais, debates, rodas de saberes e mesas redondas.

Todo esse movimento é gerado em torno das investigações da história de vida dessas mulheres, referenciando o tempo inteiro as suas existências e não perdendo de vista suas falas, as falas de outras pessoas que circundam suas vidas, suas experiências, as suas sabedorias e o meu olhar sobre elas. Essas investigações são importantes para o legado educacional do nosso país por fazerem jus em demonstrar de forma real as condições sobre as quais essas mulheres se encontram, quais os percalços que elas enfrentam, quais suas perspectivas em torno da educação artística-musical que proporcionam às pessoas das suas comunidades, e o que pode ser feito para que essas mulheres não caiam na invisibilização por parte das instituições educacionais formais, que em sua maioria fazem com que se perca de vista a contribuição dada por essas mulheres à educação musical.

O público partilhante dessa proposta envolve desde grupos tradicionais populares preferencialmente formados por mulheres, musicistas, ativistas, movimentos sociais, pesquisadores, educadores, educandos e humanidade. 

O Re-inventário de cantoras conta  histórias de vida de mulheres pautadas em questões de etnia, classe e gênero, com uma intensa relevância em fazer com que esses relatos biográficos se tornem recursos educacionais e culturais nos campos da educação musical formal e não formal. As perguntas que nortearam e que instigaram o processo investigativo desse movimento se pautam em várias questões. Uma delas se deteve em buscar entender o que levou as escritas locais sobre a tradição popular a não relatar histórias de vidas reais, que ultrapassassem as barreiras da glamourização em que muitas vezes se coloca a mulher  cantora, como também compreender a ideia de que essas atividades de criação, pesquisa, educação e promoção da cultura do âmbito chamado popular seria um hobby ou passatempo que não exige uma remuneração . O que de fato precariza as suas atuações tendo em vista que realizam um trabalho duplo, como artistas e exercendo outras atividades que lhes garantam recursos financeiros para subsistência. Isso nos leva a reflexão que essas mulheres exercem outros exercícios de poder na sua própria vida. Elas são mães, cuidadoras de suas casas, cuidadoras das pessoas da sua comunidade, o que acaba atribuindo a elas uma gama de atividades diárias que por muitas vezes só são possíveis por um esforço, uma atuação de saberes e uma dedicação que não podem ser vistas como entretenimento. É preciso desprender de energia material, intelectual e física para tornar possível que as ações nas comunidades estejam sempre em vitalidade. Garantir que essas atividades sejam constantemente remuneradas é mais que justo.

Outra questão norteadora é como pode-se cuidar de um registro escrito como forma de garantia junto a oralidade, de permanência e de rememoração dos nomes e obras das, quando não se tem essa prática vinculada à tradição, nos deparamos com  pontos tensos e problemáticos desse percurso de compreensão, como entender o que faz com que essas mulheres depois de dezenas de anos de contribuição , ainda sejam esquecidas em muitas circunstâncias pelas instituições educativas e culturais. A partir dessas colocações, pode-se pensar não só em formas de expor esses

problemas, mas como será possível pensar, contribuir, inserir cada vez mais essas mulheres em meios de produção e aquisição de conhecimento, onde elas são fontes inesgotáveis de riqueza, e que por isso precisam receber de volta todo reconhecimento e valor a elas merecidos ainda em vida. Como podemos pensar a dignidade da existência dessas Mulheres a partir do respeito as suas vidas.

Esse trabalho tem como objetivos buscar conhecer essas vidas a partir das narrativas pessoais de cada uma delas e identificar nessas falas as suas inquietações, conhecê-las em suas inteirezas, sem perder o contato direto com as impressões, falas e considerações que outras pessoas possam ter a respeito de determinada Mestra, tornando suas histórias de vida e seus conhecimentos em soluções educativas. Os objetivos específicos se pautam em decodificar aspectos étnicos, sociais e de gênero que denotem o que as possibilitou avançar ou estagnar em suas próprias histórias. Ainda enquanto objetivos espera-se inscrever o protagonismo artístico feminino da região nos escritos acadêmicos, a partir da análise do cotidiano dessas mulheres e de uma epistemologia própria dos contextos nas quais as mesmas se inserem.

©2022 por Fatinha Gomes. Orgulhosamente criado com Wix.com

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